Primeiro eu amei os filhos das outras

Débora Rubin
5 min readJun 26, 2023

Sobre as delícias de ter sido madrinha de quatro pessoinhas lindas muito antes de me tornar mãe

A primeira bebê que eu peguei no colo e amei foi Flora. Olhei em seus olhinhos castanhos e pensei que, de alguma forma, a gente estava conectada. Essa florzinha mineira foi a primeira que eu batizei, lá no final dos anos 90. Hoje ela é uma adulta, doutoranda, trabalhadora do Brasil, casada. Para mim, sempre Florinha.

A primeira bebê da minha vida foi a Florinha (essa foto deve ser do começo de 1998)

Com ela aprendi a ser madrinha. Durante muitos aniversários ao longo de sua primeira infância, na fase mais duranga da minha vida - começando faculdade, empregos bem mal pagos e aquela coisa toda da vida do universitário brasileiro sem lastro (pai rico) -, eu tomava um busão 22h em São Paulo e desembarcava em Belo Horizonte com um novo dia para estar com ela, nem que fosse só por um final de semana prolongado. Tenho lembranças muito gostosas desse tempo.

Com Florona: abraço que demora a acontecer, mas é sempre muito bom!

Nos perdemos um pouco no início da adolescência dela, aquela fase turbulenta e ingrata da vida de qualquer ser humano, mas nos achamos muitas vezes depois. A gente se fala pouco hoje, mas sempre que nos encontramos é um abraço apertado e carinho que sobra.

Daí veio a Sofie. Sofia para os não íntimos. Aquele pequeno dínamo. Ela era uma princesa braveza, a primeira que conheci. Até os seus sete anos vivemos na mesma cidade e eu participei bastante de sua vida. Como ela perdeu o pai muito nova, com quase três anos, eu fui rede de apoio para a mãe dela em alguns momentos importantes.

Sofie já na versão já bem maior que a madrinha (ok, não é difícil). Essa foto já tem uns cinco anos, da era pré-pandemia. Agora o visu dela é beeem diferente.

A família dela virou um pouco a minha família, a ponto de a minha mãe e minha irmã mais nova irem, sem mim, para o sítio da vó dela no Sul de Minas (acabou que vim morar numa cidade do interior de SP que está a apenas 50km do sítio, mas isso é outra história).

Em 2010, ela e a mãe foram embora para Roma e ficou um buraquinho no meu coração. Cada ano que ela vinha de visita já era outra e foi crescendo, crescendo até virar um dos seres humanos mais lindos que conheço. Morro de orgulho das conquistas dela. Aos quase 20, faz faculdade na Escócia. Também falamos pouco, mas ela mora em mim.

Depois de uma entressafra longa, batizei meu primeiro afilhado menino: Fefê, meu sobrinho. Sempre achei meio estranho isso de ser tia e madrinha, acho muito aposto junto, mas descobri que pode ser duplamente especial — tanto que me sinto um pouco mãe dele. Felipe é tagarela desde pequeno. Articulado, advogado das causas dele mesmo, cheio de energia e veloz no pensamento e na fala. Joga bola, joga game, joga qualquer jogo desde que esteja com os amigos que adora.

Meu Fefê, quando ainda meninão (agora tá quase um moço)

Antes dele, amei também sua irmã, Marina, minha primeira sobrinha, minha fuça, meu astral. Não é minha afilhada, mas posso chamar de filha que nasceu de outra barriga. Eu fiquei cinco anos morando longe deles, agora que estou perto, mato a saudade sem dosar. É um privilégio imenso vê-los crescer.

Marina: minha eu versão mais nova, quando beeem mais nova que hoje (o sorriso e o brilho no olhar seguem os mesmos)

Jojô foi o único que batizei ainda recém-nascido — e já faz quase dez anos! Ele era tão pitoco que tinha medo de não conseguir segurá-lo na pia batismal. Ele é filho de uma das minhas amigas com quem mais converso, presença forte na minha vida. Sei muito dele porque sei tudo dela.

Jojô lindão, o único que me chama de dinda, com Pilar neném e Maria Teresa, sempre princesa

Joaquim é inteligentésimo e tem uma mente afiada. Elabora raciocínios complexos para sua idade. Não gosta de futebol — e eu acho isso muito legal — monta robôs, sabia a marca de todos os carros com dois, três anos, e também tem uma energia de fazer a mãe dele suar. Fora que é lindo. Quando tinha quase três anos, ganhou a irmã Maria Teresa, e eu ganhei uma co-afilhada.

Eu amei cada uma dessas crianças (e outras que não são minhas afilhadas nem sobrinhas, como a Elis) antes de cogitar ser mãe. Não que ser madrinha prepare para a imensa funça que é a maternidade — não mesmo, nem ser tia, tudo isso é um paraíso comparado a ter um filho pra criar — mas, de alguma forma, preencheu meu coração de amor pelos pequenos que começam suas jornadas no mundo.

Obrigada, meus amores, amo ser a madrinha (tia, tia postiça) de vocês.

PS: Eu imaginava que se um dia tivesse filho, chamaria os quatro para serem padrinhos, representando seus pais, que me escolheram com tanto amor. Mas só tinha uma escolha óbvia e possível: minha irmã Maria Rita. O amor que ela sente pela Pilar e o cuidado que ela tem com a pitica compensam toda a ausência de avós e tios e amigos e todo mundo que a gente sonhava ter perto nessa hora.

Pilar e a melhor dinda que ela poderia ter

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